domingo, janeiro 22, 2006

Acordar...

Todos os dias, se levanta o sol e faz o dia, e acorda parte do mundo para a mesma rotina de todos os dias. A luz trás aos olhos de muita gente a razão comum do abandono dos sonhos da noite para a breve sobrevivência diária. Para muitos é mais um dia em que se levantam para cumprir todas aquelas tarefas habituais de que não podem fugir. Para outros fica o peso de mais um dia em que deambulam pelo mundo numa busca constante de eles mesmos. Podia ser simplesmente mais um momento de conquista de algo bom e produtivo nesta terra que nos alimenta, mas sempre nos ensinaram de que é mais do que isso e acabamos por perder quando acreditamos nisso e não sabemos saborear o simples e pequenino sabor do momento. Com esse sol que se levanta todos os dias vêm as regras, os tabus, os ensinamentos e as tradições, enfim vêm as culturas diferentes batalhar pelo seu espaço. Queremos conquistar mais do que aquilo que precisamos para ser felizes e acabamos por não conhecer a felicidade... A paz que encontraríamos se nos deixássemos embalar pelo ir e vir desse sol sem nos preocuparmos com a sua representação e vivendo-o, apenas! Somos seres inseguros e influenciados baloiçando desorientados entre o sol e a lua sem o perceber.

Precisamos de acordar e não apenas fingir que acordamos!!!!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

O vento é!

Pelo mundo fora procurando algo... Lá vai o vento empurrando árvores, ondulando o mar, cantando pelos vales... Como uma alma sedenta de vida como um alimento. Trás o frio do norte ou do centro o quente. Tem a solidão para o acompanhar mas nunca está só, entra pelas casas sem ser convidado, leva segredos e não os devolve... é vida de vento, é a sua sina!
Queria eu ser livre como vento. Poder viajar pelos recantos mais escondidos deste nosso mundo. Visitar as almas e entender seus males. Encontrar um sol que aquecesse a Terra. Colorir o mundo com as suas cores!
Falo de vento e falo de mim... O que é o vento de que falo e o que sou eu que me comparo? Mente adormecida em sonhos que não têm vida e nunca vão ter!
O vento rasga os céus procurando algo, eu rasgo a imaginação encontrando algo! O vento vive pelo mundo e por tudo vive, eu sonho tanto, tanto que em sonhos vivo! É real o vento que por tudo passa, eu nada conquisto, não saio do sonho, eu não sou real!

Música dos meus sentidos!

Música dos meus sentidos…
Música dos meus ouvidos,
Canto da minha alma...
Sentido da minha existência!
Ouço em silêncio as suas vozes...
E como ouço o silêncio dessas palavras...
Decifro esse soluçar de contos e melodias,
Decifro e encontro-me nesse silêncio... música dos meus sentidos!

terça-feira, janeiro 17, 2006

Folhas secas do Outono!

Folhas secas do Outono... Como adoro ouvir o barulho que fica dos meus passos quando as piso. Vê-las cair lentamente, voando com o vento até onde este as levar. Essas folhas já tiveram vida, outra cor e outra energia. Agora passeiam pelos caminhos e mesmo sem vida iluminam-nos com o desafio de as vencer. Só mesmo o Inverno para acabar com o prazer de poder pisar essas folhas secas do Outono. Pode ser estranho gostar tanto destas folhas e mesmo assim gostar de as pisar, mas não gosto delas apenas pelo barulho que fazem. Gosto da sua cor, da sua liberdade e de toda a sua impertinência de encher tudo com a sua presença. São poderosas! Atrai-me que elas tenham tornado a sua morte num momento tão belo. Morrem e tornam-se livres. Decoram a natureza e fantasiam o chão de árvores e as árvores de simples troncos nus e desprotegidos. Elas não são simples folhas. São as folhas secas do Outono!

Em passos leves...

Vieste lentamente, em passinhos bem leves, como se não quisesses vir... Não compreendia o porquê da tua chegada, assim desta forma, mas deixei-te chegar. Queria sentir o calor que me oferecias, queria arder, também, nessas chamas de vida que explodiam quando nos encontrávamos, mas os porquês chegavam como imperativos e criavam um sismo de emoções, avalanches de medos e dúvidas que me retraíam ao mais belo que podia viver.

Continuaste dando os teus passinhos apesar das quedas que espreitavam a cada avanço teu... Eu era como as nuvens no céu que não deixam passar os raios de sol, escondia o sol e escondia-me a mim própria. E além disso criava as tempestades, os trovões e fazia reinar a confusão.

Sempre fui assim! Nunca me deixei ir...

Um dia incerto olhei para dentro de mim, atravessei as minhas negações e vi-te lá. Nada me causava tanto medo como a presença de alguém no cantinho que tinha guardado só para mim. O único cantinho que continha a segurança do meu ser. Mas já lá estavas e naquele momento percebi que não queria que desistisses da viagem. Aquela viagem, apesar das minhas contradições, representava um passo para a minha libertação. Desejei-a! E todos os meus medos se reverteram para o medo de não conseguir complementar a viagem no sentido inverso. Na tua direcção...

Aprendi que a beleza do mundo não se restringe apenas àquelas paisagens cheias de cor e de vida, com céus azuis e campos verdes cheios de flores. Também pode chover! Relembro a gotinha de água que admirei num momento prematuro da tua existência na minha vida... Guardo esses momentos, mas também guardo as palavras duras que tive que escutar para aprender.

Deixei escorregar lentamente aquele véu que separava o mundo de mim e comecei a vê-lo melhor… Apesar de tudo mais ninguém me vê sem ele como tu consegues ver…

Quem és tu que vens com esses passos bem leves, com essas palavras tão certas, com essas mãos que me acariciam e com esse coração tão quente? Porque vieste?

Talvez não precise de saber… Basta-me saber que existes!

Sabores que perduram... ou talvez não!

Por mais que eu procure irradiar luz e certezas, sonhos e paixões, cores e vida, não consigo sair da sombra do que, em tempos passados, abandonou no meu olhar poções de tristeza e receios. Provei temperos que me deixaram o gosto amargo e ainda me custa saborear certos doces da vida. É como quando se começa a fumar e se perde o paladar das coisas... Em mim ficaram os medos e a paranóia de que tudo tem sempre contras e defeitos. Quando sinto bem perto de mim o aroma da felicidade, a vontade de a viver mistura-se com o receio de esta ser apenas uma ilusão e eu tornar a sentir aquele sabor amargo no meu coração. Temer assim o que me pode libertar, só me afasta do prazer e da paz de descansar eternamente estes receios. Fico presa a eles e por mais que a minha consciência os tente ignorar, a minha recordação regressa a mim como se nunca deixasse de ter existido e nunca se tivesse tornado no meu passado. Sei que uma queimadura de sol não regressa em cada nascer do sol... Não devo temer... Mas que faço eu? Acredito que a minha guerra com estas recordações terá o seu término quando eu me entregar completamente aos riscos e ao prazer... Poderei sempre sofrer, mas também poderei vencer! São riscos... E... "Quem não arrisca não petisca!!!!"

domingo, janeiro 15, 2006

Como sonho acordada...

Deixo correr o meu olhar por entre as montanhas escondidas neste horizonte. Vejo um infinito de cores que se misturam entre o branco da neve que as cobre, o verde que ainda recordo dos seus campos verdes, o azul e cinzento dos céus, a neblina do dia e o anoitecer alaranjado. Imagino para além deste Inverno que passeia pela minha paisagem e consigo ver todas as outras estações. Respiro o ar gélido que percorre os espaços que não são preenchidos por nada que eu possa admirar, mas que conhece tudo o que eu ainda não vi... Afinal é esse ar que anda por entre essas montanhas que o meu olhar admira ao longe e por todos os lugares que nunca vi. Ele entra dentro de mim e deixa um pouco do mundo em mim mesma. Dá-me vida e continua pelo mundo fora entre o quente e o frio, o dia ou a noite...

Eu preciso de todos estes sonhos que invento acordada para ser feliz... Gosto tanto de inspirar estes momentos mágicos como uma dose indispensável para viver. Gosto tanto de me imaginar voando sobre os meus sonhos na descoberta incansável da felicidade. Como se fosse um conto encantado... Mas esta paisagem existe, este ar que respiro também existe... Provavelmente esta felicidade que procuro também existe...

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Errar conscientemente

Hoje, ouvindo o mundo que me rodeia, pensando nele, observando-o, apercebi-me, mais um pouco, do quanto é reduzida a informação que vem até mim... Nem tudo o que vejo é exactamente assim... nem tudo o que escuto... O que mais me incomoda é aquela informação que não vem de um mundo qualquer, mas sim do meu! Falo de pessoas... como se pode calcular. Mas não apenas das outras pessoas mas de nós mesmos.

A humanidade sempre precisou de acreditar em algo que justificasse a sua existência. Sempre procurou razões, mitos, crenças... Acreditar é uma necessidade do ser humano e está presente na nossa história. Numa forma mais reduzida podemos ver que em cada casa existe uma necessidade de confiança, em cada coração existe sempre uma vontade inerente a nós de acreditar em alguém. Se o mundo nos mostra que tal não é possível resta-nos apenas acreditar em nós mesmos. Mas e quando não acreditamos em nós? Quando já nos enganámos tantas vezes que perdemos a nossa auto-confiança? Que resta de um ser que caia nessa situação?

È complicado errar e ter consciência que poderia ter sido de outra maneira... Mas no final de o erro estar feito não vale de nada pensar assim. A ideia é pensar, pela própria experiência e pela experiência observada nos outros, em não cometer erros... Não que sejamos perfeitos, ninguém o é! Mas é diferente cometer erros que não estavam calculados antecipadamente do que cometer erros que já sabíamos, à partida, de que eram possíveis de acontecer. Se eu sei que ao fazer "isto mais aquilo" certamente vou cometer um erro, não devo fazer. Parece fácil, mas é comum dos seres humanos fazerem este tipo de erros. De que nos vale esta tal inteligência se perante uma analogia tão fácil de fazer nos vemos constantemente desacordados com ela?

Não sou perfeita, ninguém o é! Mas a minha missão é acreditar que sou mais forte que as minhas fraquezas... Afinal são fraquezas, não são?

domingo, janeiro 01, 2006

O frio deste inverno!

O vento frio gela-me a pele, enquanto uma outra se mistura com a minha...
Aninho-me nas suas palavras enquanto suas mãos tomam conta do meu corpo, embalando os meus medos e entregando-me à magia...
Mais que o desejo, vibra agora um palpitar de corações nesse encontro carnal. Deixei bem longe os obstáculos que colocava e entreguei-me finalmente de corpo e alma à inquietação que é mergulhar num oceano de prazeres e possíveis perigos.
Lá fora a chuva cai e o céu cinzento esconde as estrelas que continuam brilhantes. As árvores despiram-se para receber estas lágrimas do céu e as suas folhas caídas no chão brilham sobre a terra molhada. O frio veio bem devagar por estas ruas. E todos o foram recebendo à sua maneira. Uns procuraram seus refúgios, outros se agasalharam... E os corpos que antes passeavam pelas ruas quentes de verão em trajes frescos e bem reduzidos, vêem-se agora dentro de casacos e casacões abrigados por chapéus-de-chuva de todas as cores e feitios. Eu aceitei o frio! Vesti um agasalho e dei as mãos à mais intensa fonte de calor... O amor! Deitei-me com ele e deixei o meu corpo nu e desprotegido entregue às suas receitas. Assim sobrevivo, assim ganho forças para permanecer junto aos corações mais gelados que o próprio tempo da rua, assim me encontro e insisto em me encontrar. Assim sou feliz!
E, assim, embebida pelas mãos que me abraçam e me aquecem, pelo corpo que partilha comigo o seu calor, pela voz que sussurra baixinho as palavras que me faltavam, sigo neste Inverno a caminho da primavera. Sigo sem medo... e sem frio!