segunda-feira, maio 29, 2006

Duas vozes

Ouço, baixinho, duas vozes cedentas de domínio que se tentam ofuscar numa oposição de ideias e valores enrolados na sua própria razão. Silênciam-me e fazem descarrilar todos os meus sentidos e sentimentos. Perco-me no balançar constante em que me vejo, de um lado para o outro ouvindo essas vozes que me querem sem se quererem uma à outra. Fico louca, descontrolada! Vejo em mim a sombra de quem se quer libertar, o vulto esquecido de quem se procura na imensidão de seres que desequilibram a mais profunda resistência. As armas de quem esquece as certezas e, se afunda num enredo de dúvidas que penetram a carne, correndo no próprio sangue derrotado.
Uma neblina escura e pesada, que à minha volta dança como se me esperasse em festa, enfraquece os meus olhos desviando-me de mim mesma. O tempo não existe e a minha alma agarra-se às lembranças como uma ancorâ que me deixa em porto seguro. Afasto-me para não ter que lutar contra as vozes que lutam por mim e abandono-me à esperança cravada no meu peito como um punhal que elimina em mim toda a cobardia dos meus sentimentos...
Acredito e receio acreditar. Duas vozes que em mim se insinuam como o meu ritual de existência. Eu mesma em dois contos intemporais que me esgotam e atormentam com apenas duas vozes...

quarta-feira, maio 03, 2006

Equilíbrio do nada

Nada... Uma ausência de algo.
É por existir que se pode dizer que não existe, e que é nada. No fundo nada é um pouco de tudo que pode ser, num certo momento, nada.
Conceito que contém sem conter...
Quando nada existe é porque algo existe para poder não existir.
E assim se cria esta palavra...

Um oposto de sentido que só assim se define. Um dos opostos como todos os outros que nos criam. Sim, porque somos um conjunto que se equilibra. Existem sempre dois lados e um sem o outro não existe. Entre matéria e energia tudo se parece compreender entre dois lados que se complementam.
Entre o frio e o quente posso encontrar um "meio-termo". Mas será este o mesmo que para outro qualquer ser? Penso que não. Somos todos diferentes, mas acredito que existirá um outro ser que terá um meio-termo oposto ao meu e, assim, se equilibre com ele. E nos sentimentos? Também existem "meios-termos". Também somos diferentes e identificamo-nos com "meios-termos" diferentes. Acredito que a vida tenha sido fabricada com esta fórmula. O equilíbrio da matéria e da energia. E insisto que nada permanece sem equilíbrio e, se assim acontece, é porque tudo tem o seu equilíbrio. Novamente, tendo em conta que nada existe só porque algo existe para poder não existir.

Eu acredito no amor, mas também sei que o ódio tem que existir. Acredito na alegria, mas sei que esta não existe sem a tristeza...
Seria um mundo perfeito sem dois lados para cada coisa?
Penso que não...
O mundo seria metódico e constante. Porque estávamos em pleno equilíbrio e nada poderia mudar, porque não tinha sequer no que mudar. Deixava de existir vida e seríamos um simples cenário estático, como uma tela perfeita em que a pintura se manteria exemplar para todo o sempre. Saborearíamos apenas a noite ou o dia, sem sequer ter consciência de nenhum deles porque não sabíamos que existiam. O mundo deixava de se mover, nada se criava, nada se movia. Nada como um conceito puro e sem sentido. Porque na verdade nada existia. Um nada que não continha a ausência de algo, porque tudo existiria, assim mesmo, sem poder sequer deixar de existir.

Era estranho... E parece impossível!


segunda-feira, maio 01, 2006

Que estranhas palavras

Que confusão amar...
Que confusão sentir o medo de ter e o de perder.
Que sentimentos fortes e fracos me invadem.
Que revolução de ser e existir em mim se gera,
Que dúvidas me assaltam e detonam, em mim, a minha insegurança...
Estranho mundo de emoções,
Ardente certeza das incertezas
Calma inquieta que quer ser só por ser.
Sinto que me enfraquece e me conquista,
Consome em mim a minha paz
Derrota-me com um sorriso
e destrói-me num longo silêncio.
Quero e entrego a minha voz a essa vontade
Dispo a minha alma e o meu corpo
Só quando espreita o frio me contenho
Sou, mas deixo de ser porque receio.
Desajeitada forma de amar
Como todas as outras que conheço
Sincera e perdida em confiança
Temendo o passo que tomba em direcção ao vazio
Doidas, sedentas e ambiciosas formas de pensar e de sentir
Corações que batem e que se cansam
Vontades que lutam e se enfrentam
Saudades, carências e luto do tempo
Que palavras tão vagas e tão sentidas
Que discórdia de vida e de caminhos
Que sabor suave que se sente
Que segredo amar sem saber...