domingo, junho 11, 2006

As coisas que eu sinto, as coisas que eu penso...

As coisas que eu sinto, as coisas que eu penso...
Olho para trás e vejo-me criança descobrindo o mundo, brincando pelas ruas, saltando, dançando. Vejo-me a viver os dias um a um, sem pensar ou sequer imaginar que havia sempre mais um amanha. A nódoa negra na perna, os arranhões nos braços, as lágrimas de birra, as bonecas que sofriam os meus descuidos inocentes, as paredes e os livros que eu riscava... Lembro-me como era fácil sorrir, como tudo me parecia simples de sentir. Queria ser grande como a minha mãe, queria ser adulta...
Fui crescendo! A escola, os amigos, eu... tudo foi mudando e assim eu fui crescendo. Defini valores, ideias, sentimentos, fui fazendo escolhas, sofri e fui feliz. Olho para trás e tento não pensar nas lágrimas, mas se hoje sou assim foi porque existiram, como não pensar nelas?
Hoje o futuro bate à porta todos os dias. O mundo passa a correr e esquecemo-nos de viver só para o seguir. Queria ainda sentir o cheiro dos dias, ter tempo para brincar, sonhar, andar pelo mundo de mãos dadas com a calma e a segurança, conviver e conhecer as pessoas. Tomara sermos todos crianças...
As coisas que eu sinto, as coisas que eu penso...
Sofro pela solidão que descobri em mim... O mundo não gira à nossa volta, como em criança se pensava, nós é que giramos à volta do mundo. Sou infeliz por descobrir a vida como ela é. Sinto necessidade de crescer, mas medo de não mais sentir a simplicidade de ser criança. Gosto de amar, mas temo a infelicidade e a dor. Quero ser mas receio cada erro que cometo. Sou crente nos meus valores, mas não sou perfeita e não consigo cumprir a minha vontade de ser...
Como é difícil esta forma de vida que inventaram para o mundo.
Primeiro nascemos e somos dependentes de tudo e de todos e depois ensinam-nos a abandonarmos essas necessidades e a enfrentarmos o mundo como se estivéssemos sozinhos. Há uma contrariedade no conceito de sociedade que é vivido entre nós. Por um lado vivemos em grupos que se sustentam uns aos outros, económica e culturalmente, mas por outro somos indivíduos solitários que sentem e vivem cada um a sua vida de uma forma cada vez mais isolada. E nós criamos esse isolamento... O que somos nós ao certo? Para onde caminhamos? Eu não quero caminhar sozinha... Porque não posso optar?
...ai as coisas que eu sinto, as coisas que eu penso!