quarta-feira, julho 01, 2009

Sentir...apenas!

Escondia-me nas sombras de uma existência que queria viver. Lutava por não sentir e vivia contra a maré dos meus desejos. Parte do mundo vive assim e eu tornava-me num ser vulgar que se entrega à hipocrisia humana crendo ser mais feliz assim.
Nem sempre fui sincera com as minhas vontades, nem sempre as deixei serem iluminadas para não serem reconhecidas, no entanto já deixei. Já existiram tempos de sol e de luz em que me envolvi e me mostrei, em que segui os meus instintos e fui mais feliz. Mas o sol também tem que descansar e nessas alturas, depois de ver a luz, não consigo lidar com a escuridão. Depois de sentir o mais belo raiar do dia comecei a temer o adeus do sol e optei por viver à sombra. Na sombra não existem oscilações radicais como a passagem do dia para a noite. Tudo é mais gradual e constante. Vivo serenamente mas sem grandes emoções. Pensei que esta seria a melhor solução para me afastar dos medos e sentimentos de perda constante. Viver à sombra... Mas viver à sombra não é viver. Viver à sombra é apenas permanecer na vida. E hoje acredito que mesmo não havendo dia sem noite não vale a pena desistir dos dois só para não sentir a ausência da luz em determinadas alturas da vida.

Um dia, estava eu encostada na sombra do meu dia ou da minha noite e deixei-me penetrar por um raio de sol que invadiu a minha sombra. O meu corpo regozijou-se com o seu calor e a sua luz. Senti algo que evitava e gostei. Mesmo temendo o resultado final resolvi espreitar o dia e entreguei-me a ele como uma criança carente brincando nos vales verdes e iluminados de flores. Senti que tinha que abandonar todas aquelas sensações antes que fosse quase impossível, mas era tão bom, tão agradável que ignorei a voz da razão... (razão?! que razão era essa?) Ignorei por completo toda filosofia de vida que tinha adoptado e esqueci-me dela. Hoje, neste presente que é o meu, neste momento certo que tenho quero sentir o dia e o sol e o calor e a luz. Quero e tenho a certeza disso. No futuro, que pode ser meu, no tempo incerto que ainda não conheço, nesse tudo pode ser diferente, mas hoje, neste agora quero apenas sentir!

quinta-feira, junho 18, 2009

Dançando...

Ouvindo a melodia dos sinais que já não evito entrego-me aos seus encantos e danço ao seu som. Tento seguir o seu compasso mas nem sempre acerto e mesmo assim não me ocorre desistir. Hoje não me apetece falar de nada! Não me apetece discutir comigo as minhas crises existenciais, falar do tempo ou da vida, criar teorias ou sequer conversar com elas... Apetece-me apenas dançar ao som desta melodia que vem de encontro a mim e soltar palavras como uma poesia que brota do nada e se constitui num todo que compreende a liberdade da minha vontade e esta melodia.
Rasgo as folhas que rasurei, pois já não fazem sentido existir. Lavo o corpo e semeio na alma uma nova coragem. Um passo à direita e dois à esquerda. Talvez seja assim que se dança esta melodia. Um passo para trás e dois para frente, roda-se o corpo e confronta-se a inspiração tentando sugerir o improviso. Nada é certo nesta melodia e nada é certo nos seus passos de dança. De olhos fechados para a sentir entrar em mim, de mãos abertas para a tentar agarrar. Balanço o corpo e equilibro a alma e danço, danço, danço esta melodia que não sei de onde veio, como surgiu ou porque me embala. Apenas sei que me sinto bem na sua companhia e danço com ela!!!

domingo, junho 14, 2009

A minha noite...

Uma noite deitada no meu olhar sussurrando-me ao ouvido os segredos de sua música. Nela me invento e conto de novo a minha história. Desfaço a cama e descanso no seu leito de paz. O silêncio é a sua música, as estrelas são sua companhia e eu sou apenas mais um ser que ela invade e tenta descodificar... Dispo-me e deixo-a tocar todo o meu corpo, deixo-a invadir os meus sentidos e descobrir os meus segredos. Num estado de transe sou brandamente domada e solto todas as dúvidas, as questões pertinentes e entrego-me à simplicidade que ela me oferece. Por momentos deixo de pensar e sou apenas guiada pelo seu canto. Essa noite que me atrai e que me conhece como ninguém, essa noite que me desmascara e encontra em mim a luz que se ausenta quando a razão acorda. Essa noite que me encontra quando eu mesma não o consigo fazer...

Sei que questiono e me confundo demais, sei que me enlameio de dúvidas quando me deveria embebedar com emoções. Sei que esta noite representa o meu próprio encontro com as minhas fantasias, é o meu refúgio consciente de uma vida voltada para uma racionalidade chata e aborrecida, e mais que tudo, por mim temida. Sim, eu sei! Mas que posso fazer com esta minha cobardia? Como posso eu combater a minha teimosia em não mostrar ao mundo tudo o que sou? Como posso lutar com os meus medos mais intrínsecos? Como?
A humanidade ensinou-me a esconder-me nesta cortina de racionalidade. Aprendi tão bem que não consigo mais desaprender... O Homem acha-se um ser superior por pensar, mas para mim, todo esse poder de pensar é nada mais que sua morte! A morte de um ser dotado de sentimentos, de emoções e de vida! Podíamos usar este poder para sentirmos ainda mais, mas preferimos usá-lo para deixarmos de sentir... Somos suicidas, homicidas da vida humana, da força do coração e da paixão. Cultivamos a tristeza porque é mais fácil de controlar e, todos os dias, morremos um bocadinho mais!

Por isso eu não tenho medo desta noite que me descobre. Deito-me com ela e deixo-a sugar de mim a minha voz!

sábado, junho 06, 2009

Tudo se transforma

Como as coisas se alteram, as pessoas, as ideias... Como tudo se pode embrulhar e desembrulhar de várias maneiras possíveis. Nada é certo ou definido. Como na lei de Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Tudo se transforma! Nós transformamo-nos, nós contrariamo-nos, nós questionamos as nossas certezas e rebelamo-nos contra elas. Nós afirmamos e negamos, nós queremos e repudiamos. Nós criamos mundos e desfazemo-los, nós dividimos e multiplicamos. Somos o que queremos ser em determinado momento e logo o deixamos de ser. Fantasiamos, inventamos e negamos as ilusões. Choramos e rimos...
Como tudo é vago e pouco concreto... Como tentamos justificar a vida com teorias incertas... Como nos tentamos justificar sem querer aceitar as respostas que menos nos favorecem... Como somos falsos e verdadeiros...
Tudo se transforma de dia para dia, tudo ganha um novo sentido em cada percurso que fazemos. As flores desabrocham e brilham, mas um dia murcham e morrem. O sol nasce e ilumina o céu, mas ao longo do dia vai-se deitando, trazendo a noite.
As incertezas de hoje são as certezas de amanha e tudo se mistura como as cores, as ideias e os sonhos. Tudo se combina e mesmo sem muito sentido ás vezes resulta!

domingo, maio 31, 2009

Uma normalidade questionável

Embrulho-me nas entrelinhas do olhar do céu. Questiono e ponho em causa cada mensagem que recebo e que envio. Loucas sensações que se tentam afastar das emoções. Lutas constantes, conquistas e derrotas, nas quais a razão tenta imperar. Afirma-se como a única luz, o único sentido da vida e com sua luz ofusca todas as possibilidades de se sentir fracassada.


O medo viaja em mim, percorre as minhas veias chegando a cada pedaço de mim. Penetra cada cantinho do meu ser e mistura-se com o meu corpo e a minha alma. Já me pertence, já faz parte de quem sou!


Os meus olhos maquilham-se de coragem, mas esta dissolve-se nas minhas lágrimas desvendando assim as minhas fraquezas. Confunde-me, agita-me e transtorna-me. Faz de mim um céu que sabe brilhar mas que também sabe chorar, que é azul, cor-de-rosa e negro, que arde e que gela, um céu normal.

Tento-me distanciar dessa normalidade, mas faz parte de mim e enfraquece-me, tento-me libertar mas não tenho forças.
Sou meramente humana e não posso lutar contra isso.

quarta-feira, maio 20, 2009

Eu...

Eu...

Um inspirar de emoções e questões de mundos que existem e não existem, de ideias que fervem em mim e que me gelam, de quereres e não quereres que não domino. Eu... Ser ávido de segurança e paz, calma e certeza, que prefere revelar-se como o lado oposto destes desejos. Ser que se esconde nas nuvens e não as deixa chorar. Ser que por vezes tenta não ser.

Eu!
Procuro com um olhar embaciado uma sombra para me abrigar, um leito seguro que me aqueça nesta viagem de tempestades constantes e intermináveis. Parte de mim entrega-se ao sol que por vezes vai espreitando, outra afunda-se num esconderijo sem luz e sem destino.
Saio de casa como se abraçasse a vida e me conjugasse com ela. Saio corajosa e lutadora. De cabeça levantada, como que a olhar para o céu, atravesso as ruas e enfrento os meus medos. Projecto a minha voz e ergo-me nela como uma ave querendo voar sempre mais alto. Por momentos sou poderosa e sei disso. Por momentos todos o sabem...
Mas logo volto a casa, me desmascaro e me derreto como uma pedra de gelo em frente ao calor intenso de uma lareira acesa... Vou enfraquecendo e tudo se mostra tal qual é. Descubro-me incapaz de me admitir, incapaz de me revelar.

Dentro de casa, dentro de mim sei que encontro a minha verdade...
Mas será que a quero encontrar?
Será que quero assim tanto descobrir?


Terei medo?

Mudar o mundo

Hoje li um pedaço de história que me alumiou os pensamentos numa direcção já antes reflectida. Falava de um jovem que queria mudar o mundo. Um dia, este jovem, apercebeu-se que já não era jovem e, que provavelmente não conseguiria mudar o mundo, acordou para si tentar apenas mudar o seu país. No entanto, já durante a sua velhice, vendo que nada tinha transformado no seu país pensou tentar mudar a sua família. O tempo passou e no leito da sua morte apercebeu-se que nada tinha consumado. Deu consigo a pensar que poderia apenas tentar mudar-se a ele mesmo e que talvez a sua família lhe tivesse seguido o exemplo e por sua vez o seu país e o mundo. Esta história acordou em mim aquela sensação de que somos impotentes perante as deformidades do mundo ao nosso redor se não somos capazes de combater as nossas. Somos críticos e conselheiros mas não somos exemplos. Sabemos apontar mas não nos sabemos mostrar.

O nosso maior poder para mudar o mundo está em nos conseguirmos mudar a nós mesmos. É a partir desta mudança que se podem desencadear todas as noutras mudanças por nós ansiadas. Por vezes esquecemo-nos disso e damos connosco a pensar no que podíamos ter feito e não fizemos. O tempo passa por nós e não espera. Ao longo da vida as oportunidades vão se perdendo e existem coisas que poderão nunca ser realizadas. Não podemos ficar a olhar para a janela e desejando que ela se abra sozinha. Temos que nos mexer e fazer com que as coisas aconteçam antes que o amanha seja o ontem.

sábado, maio 16, 2009

Viver na sombra...

Normas e valores, regras e leis, são tudo criações do Homem que limitam a existência Humana. Vivemos em sociedade e rodeamo-nos de manuais de instruções de como devemos agir. Claro que é preciso ordem, sem ela o instinto animal sobrepor-se-ia e certamente cairíamos num caos de destruição e rebeldia. No entanto somos demasiado controladores de nós e dos outros. Creio que desta forma ocultamos muitas vezes a nossa essência. Tornamo-nos submissos à sociedade que criámos e deixamos de viver parte dos nossos desejos.
Esta forma de viver por nós escolhida é a nascente dos frustrados e dos cínicos que povoam o nosso planeta. Poucos são os que vivem verdadeiramente para eles mesmos e para os outros. Somos uma sombra do que poderíamos ser, escondemo-nos atrás destas leis e vivemos vidas quase que saídas de produções em série. Vidas delineadas pelas mãos dos poderosos que institucionalizam a vida humana.
Somos dotados de razão mas usamo-la para ocultar a emoção. Reduzimo-nos a um mecanismo previamente estudado e limitado. Somos deveras uns pobres que acreditam que ainda vivem! Desalojados de vontade própria e induzidos ás vontades catalogadas como correctas.

Somos um mito, uma ilusão.

quarta-feira, maio 13, 2009

Aqui estou de novo!

Aqui estou eu de novo a espreitar janelas e portas, horizontes e destinos. De novo marcada pela cruz da vida que é a procura incansável de nós mesmos. Céus enublados, azuis ou cor-de-rosa, céus que choram, que gritam ou que simplesmente se silenciam com sua beleza... Puras incertezas da natureza como as nossas inquietudes.
De novo ás voltas com a minha cabeça procurando o meu rumo...
Já tive certezas, mas desfiz-me delas. Talvez não fossem tão certas assim...
Será o nosso destino, o nosso fatídico destino procurar, procurar sem nunca encontrar? Semeamos perguntas tentando colher as respostas e o que encontramos são sempre mais perguntas! Perguntas iguais, perguntas diferentes mas sempre mais!
Eu estou aqui de novo, como se voltasse à estaca zero, como se nada do que vivi nos últimos anos tivesse existido. Estou aqui de novo com novos desejos, novos sonhos, ansiando ser outra pessoa. Outrora quis ser e agora já não quero. Quem me garante que algum dia vou ser o que algum dia desejarei? Ou serão os desejos meras ilusões que nos confundem?
Tento fechar os olhos ás perguntas que se cruzam comigo, tento me libertar... Tento ser sem me questionar, mas parece que tudo deixa de ter sentido. Deixo de sentir o frio e o calor, o doce e o amargo.
Ai, aqui estou eu de novo! De novo confusa, de novo perdida sem encontrar um ponto de referência com o qual me possa orientar... Certa de que amanha será outro dia, e depois uma outra noite e um outro dia. Certa das horas e dos segundos!
Andamos sempre à deriva, mesmo que por vezes pareçamos estagnar num solo firme.

Novos dias, novas noites e novos eus que me abalroam a cada momento em que me distraio e me perco de um possível (certo) rumo.

sábado, abril 18, 2009

Hipócritas

Um mergulho profundo em mim ou no que me rodeia, e o que encontro eu? Migalhas de seres que deambulam pela vida? Vagas origens e descendências do bem? Penumbras de ideias e valores por se cumprirem? É esta a essência da vida que defendemos dia-após-dia?
Criticamos o mal e concretiza-mo-lo na obscuridade dos nossos actos, como se a crítica pudesse valer o mal que fazemos. Olhamos para os lados quando procuramos o mal e desviamos o olhar quando o bem clama por nós. Será, esta hipocrisia, imponente o suficiente para não ser desmascarada por cada um de nós? Ou seremos nós burros?

Não acredito que todos saibamos concretamente o real valor das nossas atitudes.
Para alguns a sua hipocrisia é uma defesa inconsciente que tenta por força defender as suas fraquezas. Seres que se humilham às suas qualidades de seres errantes e se entregam ás suas carências, aos seus lânguidos desejos.
Para outros a consciência faz deles mesmos seres hipócritas. Fazem o mal, pela calada, conscientes dele e defendem-no criticando o próximo a cometer o mesmo mal, para sobre este recair todo o pecado e sua culpa.
Como é cruel a realidade de seres a quem foi oferecida a racionalidade como meio de se protegerem do mal e que antes a usam para a procurar sem se sentirem pecadores. Bárbaros, selvagens, abomináveis criaturas que não merecem o cérebro que têm, façam de vós criaturas ainda mais bárbaras, selvagens e abomináveis e destruam-se. Destruam-se com tanta hipocrisia que cedo verão isso concretizado.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Odeio-te

Quando nos cansamos de olhar para a realidade e sentimos uma vontade de desistir de acreditar nela, o mundo parece não ter mais conserto. Por mais fantasia, mais cor que tentemos dar ao mundo e ás pessoas que nele habitam, tudo parece ser tão cruel e sujo que não dá vontade de o viver. A parte melhor é tão pequena perante as monstruosidades que a rodeiam, perante os horrores e destruições que existem que é tão difícil olhar para elas.
No meio das tempestades existem maravilhas, mas são tão diminutas que pouco se evidenciam. Quando paro para olhar para este mundo sem o colorir sinto uma vontade enorme de desistir dele. Penso que não devo fazer em nome daqueles que também não desistiram de mim quando contribui para a sua maldade, mas sinto-me tão fraca e tão pouco motivada, que por vezes não sei como conseguir.
O mundo está sujo, corrompido, é tão complicado caminhar sobre tanta pedra no chão...
Já quase não existem primaveras, Verões, a escuridão parece estar a vencer e cada vez mais estamos mais sós e abandonados... Tenho vontade de gritar com o mundo e mostrar-lhe como está errado, tenho vontade de me fechar e não olhar mais para ele... Queria poder viver descansada sem a cortina que me protege dele. Gostava de abrir a janela da minha vida e poder respirar ar puro e partilhá-lo com todas as outras...

Mundo feio que me fazes sentir sentimentos que não sabia serem possíveis de sentir!
Odeio-te!