Nem sempre fui sincera com as minhas vontades, nem sempre as deixei serem iluminadas para não serem reconhecidas, no entanto já deixei. Já existiram tempos de sol e de luz em que me envolvi e me mostrei, em que segui os meus instintos e fui mais feliz. Mas o sol também tem que descansar e nessas alturas, depois de ver a luz, não consigo lidar com a escuridão. Depois de sentir o mais belo raiar do dia comecei a temer o adeus do sol e optei por viver à sombra. Na sombra não existem oscilações radicais como a passagem do dia para a noite. Tudo é mais gradual e constante. Vivo serenamente mas sem grandes emoções. Pensei que esta seria a melhor solução para me afastar dos medos e sentimentos de perda constante. Viver à sombra... Mas viver à sombra não é viver. Viver à sombra é apenas permanecer na vida. E hoje acredito que mesmo não havendo dia sem noite não vale a pena desistir dos dois só para não sentir a ausência da luz em determinadas alturas da vida.
Um dia, estava eu encostada na sombra do meu dia ou da minha noite e deixei-me penetrar por um raio de sol que invadiu a minha sombra. O meu corpo regozijou-se com o seu calor e a sua luz. Senti algo que evitava e gostei. Mesmo temendo o resultado final resolvi espreitar o dia e entreguei-me a ele como uma criança carente brincando nos vales verdes e iluminados de flores. Senti que tinha que abandonar todas aquelas sensações antes que fosse quase impossível, mas era tão bom, tão agradável que ignorei a voz da razão... (razão?! que razão era essa?) Ignorei por completo toda filosofia de vida que tinha adoptado e esqueci-me dela. Hoje, neste presente que é o meu, neste momento certo que tenho quero sentir o dia e o sol e o calor e a luz. Quero e tenho a certeza disso. No futuro, que pode ser meu, no tempo incerto que ainda não conheço, nesse tudo pode ser diferente, mas hoje, neste agora quero apenas sentir!