domingo, junho 14, 2009

A minha noite...

Uma noite deitada no meu olhar sussurrando-me ao ouvido os segredos de sua música. Nela me invento e conto de novo a minha história. Desfaço a cama e descanso no seu leito de paz. O silêncio é a sua música, as estrelas são sua companhia e eu sou apenas mais um ser que ela invade e tenta descodificar... Dispo-me e deixo-a tocar todo o meu corpo, deixo-a invadir os meus sentidos e descobrir os meus segredos. Num estado de transe sou brandamente domada e solto todas as dúvidas, as questões pertinentes e entrego-me à simplicidade que ela me oferece. Por momentos deixo de pensar e sou apenas guiada pelo seu canto. Essa noite que me atrai e que me conhece como ninguém, essa noite que me desmascara e encontra em mim a luz que se ausenta quando a razão acorda. Essa noite que me encontra quando eu mesma não o consigo fazer...

Sei que questiono e me confundo demais, sei que me enlameio de dúvidas quando me deveria embebedar com emoções. Sei que esta noite representa o meu próprio encontro com as minhas fantasias, é o meu refúgio consciente de uma vida voltada para uma racionalidade chata e aborrecida, e mais que tudo, por mim temida. Sim, eu sei! Mas que posso fazer com esta minha cobardia? Como posso eu combater a minha teimosia em não mostrar ao mundo tudo o que sou? Como posso lutar com os meus medos mais intrínsecos? Como?
A humanidade ensinou-me a esconder-me nesta cortina de racionalidade. Aprendi tão bem que não consigo mais desaprender... O Homem acha-se um ser superior por pensar, mas para mim, todo esse poder de pensar é nada mais que sua morte! A morte de um ser dotado de sentimentos, de emoções e de vida! Podíamos usar este poder para sentirmos ainda mais, mas preferimos usá-lo para deixarmos de sentir... Somos suicidas, homicidas da vida humana, da força do coração e da paixão. Cultivamos a tristeza porque é mais fácil de controlar e, todos os dias, morremos um bocadinho mais!

Por isso eu não tenho medo desta noite que me descobre. Deito-me com ela e deixo-a sugar de mim a minha voz!

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