domingo, abril 03, 2005

A minha tela

Pinto a tela vazia da minha vida com cores que misturo com os sentimentos que encontro no fundo do meu coração. Disfarço-os com o medo que alimento com cada passo que me recuso a dar, em cada vez que desisto de os sentir ou assumir. Suspiro uma vontade enorme de ser e contenho a voz que me revela ao mundo, essa que ouço como se fosse eu, mas que no fundo apenas me cobre e protege da luz que procuro e finjo não querer. Enfim sou, como todos os seres, fiel ao que os outros querem de mim e infiel ao que quero. O mais confuso é que, apesar de ter noção do que me acontece, continuo a deixar-me levar por esse conjunto de restrições que criam para mim como um esteriótipo da humanidade. Não me imponho nem demonstro a minha vontade abafando a minha frustação em momentos de tristeza e melancolia pelo que poderia ter sido se me tivesse seguido pela minha vontade.
Olhando para o quadro que pintei, até agora, da tela vazia que me entregaram ao nascer, vejo um reflexo de uma alma que surge de uma forma pensada e não espontânea como deveria ser. Uma alma artificial que criei segundo o que podia querer refugiando as emoções nas lágrimas que não aparecem na tela, com as quais lavos os pinceis com que pinto o meu quadro. E na galeria de quadros que encontro pelo mundo fora vejo o mesmo desenho que o meu. Pouco nítido e muito pouco sincero. Artificial! O resultado do que fazemos de nós mesmos. Um conjunto de quadros idênticos e que pouco expressam a vida... a verdadeira essência do ser...

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