segunda-feira, maio 29, 2006

Duas vozes

Ouço, baixinho, duas vozes cedentas de domínio que se tentam ofuscar numa oposição de ideias e valores enrolados na sua própria razão. Silênciam-me e fazem descarrilar todos os meus sentidos e sentimentos. Perco-me no balançar constante em que me vejo, de um lado para o outro ouvindo essas vozes que me querem sem se quererem uma à outra. Fico louca, descontrolada! Vejo em mim a sombra de quem se quer libertar, o vulto esquecido de quem se procura na imensidão de seres que desequilibram a mais profunda resistência. As armas de quem esquece as certezas e, se afunda num enredo de dúvidas que penetram a carne, correndo no próprio sangue derrotado.
Uma neblina escura e pesada, que à minha volta dança como se me esperasse em festa, enfraquece os meus olhos desviando-me de mim mesma. O tempo não existe e a minha alma agarra-se às lembranças como uma ancorâ que me deixa em porto seguro. Afasto-me para não ter que lutar contra as vozes que lutam por mim e abandono-me à esperança cravada no meu peito como um punhal que elimina em mim toda a cobardia dos meus sentimentos...
Acredito e receio acreditar. Duas vozes que em mim se insinuam como o meu ritual de existência. Eu mesma em dois contos intemporais que me esgotam e atormentam com apenas duas vozes...

1 comentário :

Anónimo disse...

Coisa bela e cheia de significado.. Nunca te esqueças de uma coisa: a voz que comando é a tua, é essa cuja vontade tem obrigatoriamente de prevalecer, é como num diálogo em que alguém pede a opinião dos outros sobre algo, depois de já ter a própria opinião formada. Não te deixes consumir nem esgotar ao tentares ponderar qual das vozes tem mais ou menos razão ou qual delas deves seguir... segue a tua, ambas são tuas, mas há uma que se tenta sobrepor às outras duas, nem sempre é a voz da razão, mas é voz da qual nunca ninguém se deve arrepender de seguir.